quarta-feira, 30 de março de 2011

EM ALGUM LUGAR DO PRESENTE


Em alguma cidade do interior de Minas Gerais, em algum tempo indeterminado, alguns seres humanos preparam-se para a despedida de duas mulheres, mãe e filha, supostamente loucas, ou lamentavelmente enlouquecidas, ou consequentemente ensandecidas. Os tais outros seres humanos que a cercam naquele ambiente dirão de quem se trata, do que aconteceu, do que poderá acontecer, ou do que eles querem que aconteça. São pequenos comerciantes, mendigos chaplinianos, dignas-prostitutas-de-vida-difícil, indignas donas-de-casa-fofoqueiras, mocinhas que sonham casar, crianças que não pensam em crescer... personagens que estão em todos os lugares: porque existem seres humanos de uma ponta a outra neste mundão de Deus, feitos à Sua dessemelhança.
Essa é a paisagem humana que apresenta a peça “História de algum lugar”, escrita (muito bem escrita) e dirigida (seguramente bem dirigida) por Áurea Liz.  A ambientação do texto em algum sertão de Guimarães Rosa poderia creditar-se na aridez de um Graciliano Ramos, como poderia urbanizar-se nos conflitos de um Machado de Assis. O grande personagem da peça é o ser humano, no que ele tem de belo e medíocre, no que ele manifesta de bondoso e covarde, no que ele sustenta de esperança e fracasso. Mas Áurea colocou seus personagens em Minas, e de sua aldeia falará da humanidade.
Quando começou a peça, incomodou-me esses personagens caricaturados, nos gestos comezinhos, no figurino fingido, no sotaque forçado. Mas aos poucos o desconforto se desfez pelas soluções cênicas, pela exposição interior dos tais seres humanos, pela grandiosidade da situação que se apresentava no palco. Grandiosidade e simplicidade, dois sentimentos que somente os talentosos têm capacidade de demonstrar num mesmo fôlego. A peça me pegou e me levou para aquela estação. E eis que no momento certo acontece uma virada espetacular: o recurso de flash back em cena aberta. É o ponto máximo da narrativa. A dramaturgia teatral vai de encontro a um efeito cinematográfico, e nos encanta. Por momentos o maravilhoso espaço panorâmico do palco teatral torna-se um enquadramento próprio de cinema, sem desmerecer um, nem se sobrepondo a outro: mas unindo-se numa mesma maneira de contar a história de algum lugar, de todos os lugares e pessoas.
O teatro tem essa magia: ele sempre foi tridimensional. Desde o espaço aberto do anfiteatro de Epidauro, na Grécia antiga, o teatro sempre esteve latente a um palmo de nossos olhos, e irresistivelmente colocado ao coração. É um santuário. A peça de Áurea Liz vem nessa comunhão, dissecando-nos, mas jogando luz sobre a platéia.

                                                         Nirton Venancio 

quarta-feira, 9 de março de 2011

NOVA TEMPORADA



Depois do sucesso de público e crítica,
 nossa História voltará a ser contada, 
no mês de outubro, 
em Algum Lugar